Ao raiar da aurora e em redor das montanhas, todos os caminhos iam dar ao rio e junto dos seus pontos de miragem, disfrutava-se d´uma vasta entensão de areias nas suas margens, avistando-se muitos barquinhos, movidos a remos por gente humilde da região, rodopiando numa roda viva. para a pesca do Sável e da Lampreia.Areio e PescadoresSempre que o Caudal do Rio o permitisse a pesca era feita no Areio de Pedorido, onde se juntavam os Pescadores de Pedorido, e Rio Mau, infelizmente hoje desaparecido, pelo volume das àguas da "Albufeira da barragem Lever-Crestuma", provocando a todas as terras ribeirinhas a montante da mesma, o alagamento de muitas dessas terras de cultivo, empobrecendo gradualmente todas essas povoações.
Nesse vai-vém da faina da pesca, houviam-se por vezes, grandes e entoados praguejamentos dos pescadores, barafustando-se uns contra os outros, com a preocupação do acerto da sua vez, visto esta, ser ordenada por ordem de chegada ao cimo do areio.
Ao meio dia, quando soavam as badaladas das Avé-Marias na torre da velha capelinha de S. João, todos se descobriam pondo-se de pé, agradecendo a Deus e à Virgem, para que lhes dessem uma boa pescaria, rezando as três avé Marias e , depois do caldito com um pouco de broa de milho, metiam-se em pequenas barracas construídas e cobertas com Giestas,Chamiças e Rancas, e lá dormiam uma soneca, esperando a sua vez.
Fé de PescadorOs pescadores tinham a sua fé, acreditavam que depois do sol posto, que ao barrer da tarde e já na sombra do caír da noite, o pescado se movimentava e os cardumes lá se íam movimentando. Era de facto a essa hora em que havia mais abundancia na pescaria do sável e da lampreia. Quando esta era fértil, sentia-se um certo contentamento nos pescadores, pois a vida estava correndo.
Era tão importante, que conatvam-se cerca de 50 Vargas a 4 pessoas cada totalizava 200 pessoas, numa altura em que o número da população era muitissima mais reduzidas.
Quando o leito do rio subia e cobria o areio, os Pescadores deslocavam-se para o Areio D´Órtes, onde se lhes juntavam os Pescadores vindos de Cancelos e Midões e todos tinham o mesmo direito e continuavam com o procedimento acima citado.
As PeixeirasAli no areal e em grupo, juntavam -se as peixeiras, que compravam aos pescadores o seu pescado, e se a vida do pescador era árdua a delas não o era menos, pois também tinham uma vida bastante ingrata. Depois da compra efectuada, metiam o peixe nos cestos ou nas canastras e no dia seguinte, lá íam de manhã cedo, a caminho de Penafiel, Paredes, Marco de Canavezes e outras terras circunvizinhas, carregando os pesadas canastras à cabeça, de forma a chegarem aos locais acima designados ao amanhecer do dia, onde por vezes, eram acompanhadas por filhos de tenra idade, carregando também em canastras mais pequenas algum peixe para venda, corrida esta, que saíndo de casa por vo.lta das 3 da manhã, afim de chegar às terras antes dos outros vendedores provenientes de outras localidades.
Esta peregrinação de pessoas envolvendo-se na faina da pesca e venda do seu pescado, era por assim dizer, a maior parte das populações ribeirinhas, pois cada rede ocupava quatro elementos em cada rede. Rio Mau e Pedorido punham na àgua mais de cinquenta redes, que multiplicando por quatro, dava ocupação a mais de duzentas pessoas e mais importante ainda, quando naquele tempo as populações eram muito mais reduzidas que actualmente.
Quando a pesca era abundante, até os comercinates beneficiavam com isso, pois quase a totalidade dos pescadores gastavam a crédito, e liquidavam as suas contas, durante o tempo de faina.
Era um tempo de duração compreendido de Fevereiro a fins de Junho, havia alguns que começavam nova pesca com outras redes ao peixe miúdo, rede de verão, escaleiras e outras que por vezes duravam até aos fins de Novembro.
Uma delícia saborear todo este pescado do rio Douro, pelo seu sabor dureza e limpo.